domingo, setembro 22, 2013

Bem-vindo (a), carinhosamente minha saudação!




O Eterno e o Tempo da Imprensa – Carlos Ramalhete

[Fonte: Facebook]

O Eterno e o Tempo da Imprensa

A desculpa para escrever este texto – que publico sem revisão por falta de tempo – é a enésima vez que um Papa (ou Bispo, ou padre, ou leigo católico conhecido como tal) diz uma coisa e a imprensa faz uma tempestade alucinada num dedal d’água, berrando aos sete ventos que “o Vaticano/Papa/Bispo mudou e agora é a favor de camisinhas/aborto/sodomia”.
Isto sempre acontece, e é sempre seguido por leigos nem-tão-engajados-assim, modernistas de direita e outras figuras da periferia católica rasgando as vestes, como se o absurdo que a imprensa disse fosse verdade. E o Papa, Bispo, padre ou leigo engajado passa a ter mais trabalho para lidar com aqueles que com os judeus, pagãos, protestantes e orientais, que normalmente prestam mais atenção no que ele tenha a dizer quando querem saber qual é a dele.
Isto acontece por uma razão simplíssima: o universo mental e o modo de lidar com a realidade da Igreja e da imprensa simplesmente não poderiam ser mais diferentes. Infelizmente, todavia, há muita gente que raciocina de modo mais semelhante ao da imprensa que ao da Igreja se manifestando nesta ocasião e em outras semelhantes.
Vejamos quais são estes modos de ver o mundo, estes universos mentais tão díspares.
A imprensa é heraclítica. Para ela, só há mudança, devir, novidade. A novidade é a notícia, e é ela, e só ela, que interessa. O resultado é evidente quando se examina qualquer jornal, revista, noticiário, etc.: o que permanece não é notícia. Diz o ditado que quando um cachorro morde um homem, isso não é notícia; só é notícia o homem que morde o cachorro, justamente por ser diferente, **novo**. Os milhares de crianças que nascem saudáveis não são notícia, mas se nascer um bebê com quatro braços, a imprensa em peso vai noticiar. A mais séria de modo comedido, a mais popularesca fazendo comparações com divindades hinduístas. Do mesmo modo, na política é notícia o que muda, o que sai do padrão. Na vida cotidiana, o crime, o incêndio, a tragédia.
A Igreja, por outro lado, é a portadora de uma mensagem eterna. Para a Igreja, estamos há dois mil anos na Plenitude dos Tempos; a Revelação já foi toda dada e concluída, e nada mais acontecerá de realmente importante até o fim dos tempos. Em outras palavras, a eternidade penetrou no tempo, dando-nos todos a possibilidade de adentrar a eternidade. E o papel da Igreja é este: ajudar-nos a adentrar a eternidade.
Vale notar os dois lados desta equação da vida eclesial: um é a eternidade, que não muda jamais. A verdade, que é sempre a mesma. A natureza humana, que é sempre a mesma. O outro é a aplicação disto a cada um de nós. A Igreja conhece o ser humano como ninguém mais, sabe perfeitamente como cada coisa nos afeta, o que nos faz bem, o que nos faz mal, etc. Mesmo alguém que não tenha Fé pode perceber isto; afinal, dois mil anos prestando atenção no ser humano fatalmente a levariam a acumular algum conhecimento!!!
Os seguidores de religiões naturais tradicionais (como o hinduísmo, o budismo e algumas formas do islã), bem como os judeus ortodoxos, aliás, concordam em quase tudo com a Igreja no tocante ao ser humano, justamente por terem se dedicado, ao longo dos séculos, a estuda-lo.
Um clérigo católico experiente (padre, Bispo ou Papa) e ortodoxo há de ter passado algumas décadas a cuidar desta equação, a ajudar individualmente pessoa após pessoa a se tornar alguém melhor. Ele há de ter tido notícia de horrores inimagináveis, ouvidos no confessionário. Ele há de ter visto pessoas que caem após anos e anos de melhora. Não apenas a feiúra dos nossos desejos desabridos, mas a **falta de originalidade** deles está profundamente gravada na maneira dele de ver o mundo.
O primeiro sodomita, pedófilo, adúltero ou zoófilo há de espantar o padre recém-ordenado, que só havia estudado aquilo num compêndio de teologia moral. Ao longo dos anos, contudo, o que lhe salta aos olhos é a semelhança entre todos eles, o modo como toda tentação é parecida. É nesta hora que lhe é valioso o compêndio de teologia moral, que lhe lembra que por mais que um furto e um adultério sejam tão semelhantes, o efeito deles sobre a alma humana é diferente.
Trata-se, assim, de alguém que dedicou a vida a ajudar pessoas presas no tempo, pessoas que acham que aquela tentação – que é exatamente igual à do próximo! – é uma novidade absoluta, a adentrar a eternidade e deixa-la para trás. Para isto, ele tem um arsenal de técnicas mais que comprovadas pelo tempo, a serem aplicadas na direção espiritual e no aconselhamento. Sempre pessoa a pessoa, sempre tendo a eternidade como objetivo.
Mas, afinal, o que levaria alguém a querer melhorar? O que levaria alguém a buscar a santidade – que nada mais é que a sanidade! –, ao invés de buscar mais dinheiro, mais sexo, mais Aifones do último tipo, ou sei lá o que se vende hoje em dia como desejável?!
Mysterium Fidei, este é o Mistério da Fé.
A Fé é uma graça divina. Em bom português, isto significa que ela é um presente de Deus ao homem, não uma decisão humana. A decisão – que existe! – é simplesmente de aceitar, ou não, a Fé que Deus oferece. Contra esta decisão há todo tipo de apego ao temporal (dinheiro, poder, sexo, Aifones… basicamente, tudo o que se perde na morte). A favor, contudo, há a perfeição divina. Há a ação dos Santos. Há os milagres (hoje, dia de São Januário, é o dia de um milagre que se repete regularmente há coisa de dezessete séculos!). Há a Verdade.
Parece um jogo ganho de antemão, mas sabemos todos – e mais ainda o sabe quem sentou por horas a fio, dia após dia, ano após ano, em um confessionário, ouvindo a horrenda banalidade do mal que se repete de coração em coração – que é tão fácil trocar nossa herança por um prato de lentilhas. Ou por um belo par de seios, ou por um empreguinho legal, ou um carro novo.
O que nos há de atrair a Deus, contudo, é sempre Ele mesmo. Em última instância, estamos falando de corresponder ao amor divino, um amor eterno, que ama cada indivíduo e ajuda – através da Igreja – cada indivíduo a se livrar daquilo que o torna menos ele mesmo. O pecado, afinal, é a negação de si mesmo. Quando eu peco, estou sendo falso em relação a mim mesmo. Se eu traio minha mulher, estou sendo menos o marido dela (que eu sou!) e mais um adúltero genérico, exatamente igual a todo e qualquer patético frequentador de casas de suingue ou bordéis.
Para a imprensa, contudo – e aí voltamos ao tema deste texto, que já parecia esquecido –, nada disso existe ou importa. Existe apenas a titilação da novidade, inclusive e especialmente a falsa novidade da última apresentação da mesma tentação velha e desgastada.
No momento, estamos na transição entre a titilação da sodomia – que está rapidamente deixando de ser titilante pelo excesso de repetição, a não ser que se trate de lesbianismo (mocinhas núbeis se esfregando têm para o vulgo um apelo bastante maior que o de rapazes fazendo o mesmo) – para a da pedofilia (que está passando de coisa medonha a coisa excitante do momento).
Mas tanto faz. Tanto uma quanto a outra são a mesma coisa, a mesmíssima e velhíssima prática de desviar-se do fim de um ato para arrancar dele um prazer que deveria ser a recompensa, não o objetivo. No fundo, dá no mesmo fornicar, entregar-se à sodomia, pedofilia ou zoofilia ou simplesmente, como faziam os romanos, comer e vomitar para poder comer mais. Ou comer produtos “diet” em megadoses, como se faz hoje em dia. É a mesma busca do prazer sem suas consequências, da recompensa sem o prêmio.
Quando, então, a imprensa e o clero – no momento, o Papa Francisco – tentam se comunicar, o que temos é um diálogo de surdos.
O Papa vai responder às perguntas que lhe são colocadas a partir do ponto de vista da eternidade (“sub species aeternitatis”), enquanto a imprensa vai buscar basicamente **novidades**. Ora, por definição, não há novidades. A Revelação se concluiu com a morte do último dos apóstolos (aos curiosos, trata-se de S. João, no final do Século I; ele era adolescente quando da Crucifixão).
Desta forma, a imprensa vai buscar sempre os pontos em que a maluquice daquele momento, daquele segundo, daquela etapa microscópica dos interesses demagógicos e vacilantes de uma sociedade em decadência está em conflito com a eternidade, e tentar vender a falsíssima idéia de que há alguma novidade, de que a Igreja “finalmente mudou”, como se isso fosse possível. Há alguns dias, era um burocrata da Santa Sé que deu vazo a delírios da imprensa, torcendo suas palavras para usá-las como se ele negasse o celibato dos sacerdotes (e, mais ainda, como se esta suposta negação mudasse algo na doutrina da Igreja!). Agora, é uma série de delírios interpretativos absoluta e completamente bizarros acerca de algumas declarações do Santo Padre em uma entrevista, ignorando não só o contexto mas as próprias palavras dele para falar sandices acerca de aborto, sodomia e o que mais vier.
Temos, assim, de um lado, um clérigo falando da Eternidade. Do outro, um jornalista buscando a titilação do momento, o devir, a mudança.
Ora, como poderia haver algum diálogo?! Como poderia haver alguma comunicação??!!
A imprensa vai, sempre, tentar torcer as palavras dos clérigos. Não é por maldade, mas porque o “radar” deles só registra mudança, movimento. E os falsos positivos do radar são muitos; não sei você, caro leitor, mas em todos os temas que domino por força dos estudos ou da ação profissional, ao ver o que é publicado nos jornais a respeito, fico chocado com a má qualidade das informações.
Ao tratar da Igreja, então, que se lhe é tão radicalmente contrária em sua visão de mundo, é praticamente impossível que a imprensa faça uma leitura que tenha algum sentido. Tudo, sempre, vai retornar àquilo em que o fabulário geral do delírio cotidiano se afasta mais visivelmente do que é Eterno: no momento, é aborto, sodomia e camisinhas; daqui a alguns anos, pedofilia e zoofilia entrarão no jogo.
O que a Igreja prega, contudo, não é nem aborto, nem camisinhas, nem sodomia. Nem – por mais incrível que isso possa parecer a meus queridos coleguinhas jornalistas – a negação deles. A Igreja prega o Eterno. Estes temas, tão titilantes e palpitantes para o jornalista que simplesmente não consegue entender como cargas d’água alguém pode diferir da sabedoria coletiva do PSOL e das Organizações Globo, para a imensa maioria dos católicos mais sérios e comprometidos com a Fé, simplesmente não se registram no radar.
Eu mesmo, por exemplo, sou casado. Não tenho a menor intenção de cometer adultério, e creio que não fosse sequer saber como se usa uma camisinha (tomei jeito antes delas virarem coisa normal) se resolvesse cometê-lo. Tanto melhor: assim tenho ainda mais razões para não o cometer!…
A sodomia simplesmente não me atrai. Como, contudo, eu tenho cá minhas tentações, quem seria eu para brigar com alguém, ou mesmo para simplesmente tratá-lo de modo diferente, por ele ter esta tentação?! Simplesmente não é da minha alçada.
Aborto, para mim, é exatamente igual a qualquer outra forma de homicídio: espero sinceramente jamais sofrer esta tentação, e espero ter forças para perdoar quem nela caia.
Nenhum destes temas jamais foi objeto de uma homilia que eu tenha ouvido numa Missa, por ser, para qualquer católico, algo evidente. Ao contrário, as boas homilias que ouvi, as que me fizeram sentar mais reto no banco para prestar mais atenção, falaram de como lidar com o que nos tenta, de como Deus Se nos revelou e Se nos revela, dos Sacramentos, dos Mandamentos, do amor conjugal de Cristo pela Igreja, etc.
Reduzir a Igreja à sua oposição a este ou aquele tema titilante da moda é simplesmente perder a Igreja de vista. É mais que evidente que isto ou aquilo é errado. Não é por a sociedade pregar isto ou aquilo como certo, contudo, que eles são errados: é por serem armadilhas velhíssimas, enferrujadas e cheias de teias de aranha, com as quais nós tentamos fugir da Eternidade que nos chama, e que é tão maior que tudo isso.
Quem, assim, reclama do Papa ou de qualquer clérigo por não tratar a imprensa como a imprensa quer ser tratada, por não cair em uma guerrinha imbecil de “pundits” e frases de efeito, simplesmente não entendeu a que vem a Igreja. E quem usa as imbecilidades que a imprensa publica sobre a Igreja para rasgar as vestes e entregar-se a escândalo farisaico, por vezes até condenando abertamente o Santo Padre, deveria calar a boca e voltar-se à eternidade. Num confessionário, e depois numa igreja vazia e sem luzes elétricas, de joelhos diante do Santíssimo. Do Eterno. De Deus, que não passa.
Na Festa de São Januário do Ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2013,
Na Quinta São Tomás, no Carmo de Minas,
Carlos Ramalhete,
Um pobre pecador, que mendiga uma sua Ave-Maria


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terça-feira, setembro 03, 2013

Médicos cubanos

Bem-vindo (a), carinhosamente minha saudação!



 
Médicos cubanos
Autor(a): Ives Gandra da Silva Martins
Professor emérito das universidades Mackenzie, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, do CIEE/O Estado de S. Paulo, das escolas de Comando e Estado-Maior do Exército e Superior de Guerra, é presidente do Conselho Superior de Direito da FECOMERCIO-SP, fundador e presidente honorário do Centro de Extensão Universitária.

A preferência da presidente Dilma Rousseff pelos regimes bolivarianos é inequívoca. Basta comparar a forma como tratou o Paraguai - onde a democracia é constitucionalmente mais moderna, por adotar mecanismos próprios do sistema parlamentar (recall presidencial) - ao afastá-lo do Mercosul e como trata a mais sangrenta ditadura latino-americana, que é a de Cuba.
A presidente do Brasil financia o regime cubano com dinheiro que melhor poderia ser utilizado para atender às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), dando-lhe maior eficiência em estrutura e incentivos.
Em período pré-eleitoral, Dilma Rousseff decidiu trazer médicos de outros países para atender a população do interior do Brasil, sem oferecer, todavia, as condições indispensáveis para que tenham essas regiões carentes hospitais e equipamentos. Empresta dinheiro a Cuba e a outros países bolivarianos, mas não aplica no nosso país o necessário para que haja assistência gratuita, no mínimo, civilizada.
O cúmulo dessa irracional política, contudo, parece ocorrer na admissão de 4 mil agentes cubanos, que se dizem médicos - são servidores do Estado e recebem daquela ditadura o que ela deseja pagar-lhes -, para os instalar em áreas desfavorecidas do Brasil, sem que sejam obrigados a revalidar seus títulos nos únicos órgãos que podem fazê-lo, ou seja, os Conselhos de Medicina.
Dessa forma, trata desigualmente os médicos brasileiros, todos sujeitos a ter a validade de sua profissão reconhecida pelos Conselhos Regionais, e os estrangeiros que estão autorizados exclusivamente pelo governo federal a exercer aqui a medicina.
O tratamento diferencial fere drasticamente o princípio da isonomia constitucional (artigo 5.º, caput e inciso I), sobre escancarar a nítida preferência por um regime que, no passado, assassinou milhares de pessoas contrárias a Fidel Castro em "paredóns", sem julgamento, e que, no presente, não permite às pessoas livremente entrarem e saírem de seu país, salvo sob rígido controle. Pior que isso, remunerará os médicos cubanos que trabalharem no Brasil em valores consideravelmente inferiores aos dos outros médicos que aqui estão. É que o governo brasileiro financiará, por intermédio deles, o próprio governo de Cuba, o qual se apropriará de mais da metade de seu salário.
Portanto, a meu ver, tal tratamento diferencial fere a legislação trabalhista, pois médicos exercendo a mesma função não poderão ter salários diversos. O inciso XXX do artigo 7.º da Constituição federal também proíbe a distinção de remuneração no exercício de função.
Acontece que pretende o Estado brasileiro esquivar-se do tratamento isonômico alegando que acordo internacional lhe permite pagar diretamente a Cuba, que remunerará seus médicos com 25% ou 40% do valor que os outros médicos, brasileiros ou não, aqui receberão.
É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) de que os tratados entram em nosso ordenamento jurídico como lei ordinária especial, vale dizer, não podem sobrepor-se à Constituição da República, a não ser na hipótese de terem sido aprovados em dois turnos, nas duas Casas Legislativas do Congresso Nacional, por três quintos dos parlamentares (parágrafo 3.º do artigo 5.º da nossa Lei Maior).
Ora, à evidência, o acordo realizado pelo governo brasileiro não tem o condão de prevalecer sobre a nossa Carta Magna, por ter força de lei ordinária especial, sendo, pois, de manifesta inconstitucionalidade. Francisco Rezek, quando ministro do STF, certa vez, a respeito da denominada "fumaça do bom direito", que justifica a concessão de liminares contra atos ou leis inconstitucionais, declarou, em caso de gritante inconstitucionalidade, que a fumaça do bom direito era tão grande que não conseguia vislumbrar o rosto de seus pares colocados na bancada da frente. Para a manifesta inconstitucionalidade do ato a imagem do eminente jurista mineiro calha como uma luva. O tratado do Brasil com a ditadura cubana fere o artigo 7.º, inciso XXX, da Constituição federal.
O que me preocupa, no entanto, é como uma pequena ilha pode dispor de um número enorme de "médicos exportáveis", que, se fossem bons, não deveriam correr nenhum risco ao serem avaliados por médicos brasileiros dos Conselhos Regionais, e não por funcionários do governo federal.
Pergunto-me se tais servidores cubanos não terão outros objetivos que não apenas aqueles de cuidar da saúde pública. Afinal quando foram para a Venezuela, esse país se tornou gradativamente uma semiditadura, na qual as oposições e a imprensa são sempre reprimidas.
E a hipótese que levanto me preocupa mais ainda porque foi a presidente guerrilheira e muitos de seus companheiros de então haviam sido treinados em Cuba e pretendiam impor um governo semelhante no Brasil, como alguns deles afirmaram publicamente.
Tenho a presidente Dilma Rousseff por mulher honesta e trabalhadora, embora com manifestos equívocos em sua política geradora de alta inflação, baixo produto interno bruto (PIB), descontrole cambial e déficit na balança comercial e nas contas externas. O certo, contudo, é que a sua preferência pelos regimes bolivarianos e a sua aversão ao lucros das empresas talvez estejam na essência de seu comportamento na linha ora adotada.
Respeito a presidente da República eleita pelo povo, mas tenho receio de que suas preferências ideológicas estejam na raiz dos problemas que vivemos, incluída a importação de agentes públicos de Cuba que se intitulam médicos.


Fonte: O Estado de São Paulo, 29 de agosto de 2013
30/8/2013


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sábado, julho 27, 2013

Bem-vindo (a), carinhosamente minha saudação!



Aborto - silêncio e rito sumário

Em pouco mais de dois meses, sob a proteção de um gritante silêncio, foi aprovado um projeto que abre as portas para a ampliação do aborto no Brasil. Segundo informação do jornal interno da Câmara dos Deputados, a iniciativa partiu do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Em reunião com o deputado Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, em fevereiro, Padilha pediu que, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, fosse votado no plenário da Casa, em regime de urgência, o Projeto de Lei 60/1999 - que trata do atendimento prioritário nos hospitais às mulheres vítimas de violência.

Como resultado do acordo entre o ministro da Saúde e o presidente da Câmara, o deputado José Guimarães, irmão do deputado José Genoino (PT-SP) e líder da bancada petista, pediu a tramitação do projeto em regime de urgência. Na ausência por motivo de viagem de Henrique Alves, a presidência da Câmara foi assumida pelo deputado André Vargas, secretário nacional de Comunicação do PT. O regime de urgência foi, então, aprovado por uma reunião de líderes das bancadas dos diversos partidos. Em seguida, no mesmo dia, o projeto foi emendado, apresentado ao plenário da Casa e aprovado em 5 de março. Três dias depois foi encaminhado para ser apreciado pelo Senado. Velocidade incomum para os padrões parlamentares.

No dia 10 de abril, já renomeado como Projeto de Lei Originário da Câmara 3/2013, ou PLC 3/2013, o texto foi aprovado pela Comissão de Direitos Humanos do Senado, após leitura de relatório favorável da senadora Ana Rita, do PT do Espírito Santo. Em 19 de junho, depois de relatório favorável da senadora Angela Portela, do PT de Roraima, o projeto foi também aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Finalmente, no dia 4 de julho, sem que houvesse sido apresentado um único pedido de emenda, o PLC 3/2013 foi aprovado no plenário do Senado e, em seguida, encaminhado à Presidência da República para ser sancionado.

Estrategicamente, o texto evita mencionar a palavra aborto, mas abre atalhos para a sua ampla ampliação. O projeto, na sua formulação conceitual e na sua tramitação política, foi conduzido com muita esperteza, mas também com notável autoritarismo. Um tema sensível foi conduzido de costas para a sociedade.

Vamos analisar o texto, amigo leitor. O artigo 1.º diz que os hospitais - todos os hospitais, sem que aí seja feita nenhuma distinção - "devem oferecer atendimento emergencial e integral decorrentes de violência sexual, e o encaminhamento, se for o caso, aos serviços de assistência social".

Atendimento emergencial significa que ele deve ser realizado imediatamente após o pedido, não podendo ser agendado para uma data posterior. Foram postos no mesmo pacote o aborto terapêutico e o aborto por estupro.

Atendimento integral significa que nenhum aspecto pode ser omitido, o que, por conseguinte, subentende que se a vítima de violência sexual estiver grávida deverá ser encaminhada aos serviços de aborto. Os serviços de assistência social aos quais a vítima deve ser encaminhada, e que não eram mencionados no projeto original, são justamente os que encaminharão as vítimas aos serviços de aborto ditos legais.

É todo um jogo malandro de palavras que conduz a um objetivo bem determinado: escancarar janelas para o aborto no Brasil. Portanto, uma vez o projeto sancionado, todos os hospitais do País serão obrigados a encaminhar as vítimas de violência sexual à prática do aborto. O projeto não contempla a possibilidade da objeção de consciência.

O artigo 2.º define que, para efeitos dessa lei, "violência sexual é qualquer forma de atividade sexual não consentida". A expressão "tratamento do impacto da agressão sofrida", constante do artigo 1.º do texto original, foi suprimida e substituída por "agravos decorrentes de violência sexual", para deixar claro que a violência sexual não necessita ser configurada por uma agressão comprovável num exame de corpo de delito. Uma vez que o projeto não especifica nenhum procedimento para provar que uma atividade sexual não tenha sido consentida - e o consentimento é uma disposição interna da vítima -, bastará a afirmação da mulher de que não consentiu na relação sexual para que ela seja considerada, para efeitos legais, vítima de violência e, se estiver grávida, possa exigir um aborto ou o encaminhamento para o aborto por qualquer hospital.

O inciso 4.º do artigo 3.º menciona ainda, como obrigação de todos os hospitais, em casos de relação sexual não consentida, a "profilaxia da gravidez". A expressão é nova. Foi estrategicamente plantada nesse projeto de lei. Terá de ser regulamentado ou interpretado.

O projeto, que tramitou com velocidade surpreendente e sob um silêncio antidemocrático, configura uma violência. O brasileiro é a favor da vida. Não se trata apenas de uma opinião, mas de fato medido em reiteradas pesquisas. A defesa da vida, da liberdade e dos direitos das minorias, tão duramente conquistados, compõem o mosaico da nossa cidadania.

A presidente Dilma Rousseff, em 2010, empenhou sua palavra ao rejeitar qualquer iniciativa do seu governo em favor da legalização do aborto. Compete-lhe, agora, vetar o projeto e, sobretudo, garantir a objeção de consciência do médico e da instituição hospitalar. É o mínimo.

As passeatas mostram o nascimento de um novo Brasil. Os cidadãos exigem transparência dos seus governantes e liberdade para manifestar seus pontos de vista. E o que está em jogo não é coisa pouca. É a preservação de um valor fundamental: o direito à vida.

Autor(a): Carlos Alberto Di Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 22 de julho de 2013


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sábado, junho 29, 2013

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Estatuto da vida
Autor(a): Carlos Alberto Di Franco
Doutor em comunicação pela Universidade de Navarra e Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais.

O Estatuto do Nascituro, recentemente aprovado numa comissão da Câmara dos Deputados e remetido para apreciação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), tem dado o que falar. Trava-se, na mídia tradicional e nas redes sociais, uma dura batalha ideológica. Sobra radicalismo. Falta argumentação racional. Nota-se, frequentemente, escassez de honestidade intelectual. Foi o que se viu em certos ataques ao Estatuto do Nascituro, um projeto que pretende dar garantias jurídicas ao embrião e que celebra o primeiro direito humano fundamental: o direito à vida.
Uma campanha nas redes sociais, repercutida na imprensa, tentou contaminar o estatuto com uma imagem negativa e carimbar o projeto com o difamatório rótulo de "bolsa estupro". O texto opinativo não deve ser um exercício de superficialidade. Deve, ao contrário, partir da análise objetiva dos fatos. Por isso, em respeito ao leitor, transcrevo o texto aprovado. Vale a pena ler com atenção.
"O Congresso Nacional decreta:
Art. 1.º Esta lei dispõe sobre normas de proteção ao nascituro.
Art. 2.º Nascituro é o ser humano concebido, mas ainda não nascido.
Parágrafo único. O conceito de nascituro inclui os seres humanos concebidos ainda que in vitro, mesmo antes da transferência para o útero da mulher.
Art. 3.º Reconhecem-se desde a concepção a dignidade e natureza humanas do nascituro conferindo-se ao mesmo plena proteção jurídica.
§ 1.º Desde a concepção são reconhecidos todos os direitos do nascituro, em especial o direito à vida, à saúde, ao desenvolvimento e à integridade física, e os demais direitos da personalidade previstos nos artigos 11 a 21 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
§ 2.º Os direitos patrimoniais do nascituro ficam sujeitos à condição resolutiva, extinguindo-se, para todos os efeitos, no caso de não ocorrer o nascimento com vida.
Art. 4.º É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar ao nascituro, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, ao desenvolvimento, à alimentação, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à família, além de colocá-lo a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Art. 5.º Nenhum nascituro será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, sendo punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, a seus direitos.
Art. 6.º Na interpretação desta lei, levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se destina, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar do nascituro como pessoa em desenvolvimento.
Art. 7.º O nascituro deve ser destinatário de políticas sociais que permitam seu desenvolvimento sadio e harmonioso e o seu nascimento, em condições dignas de existência.
Art. 8.º Ao nascituro é assegurado atendimento através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Art. 9.º É vedado ao Estado e aos particulares discriminar o nascituro, privando-o de qualquer direito, em razão do sexo, da idade, da etnia, da origem, de deficiência física ou mental.
Art. 10.º O nascituro terá à sua disposição os meios terapêuticos e profiláticos disponíveis e proporcionais para prevenir, curar ou minimizar deficiências ou patologia.
Art. 11.º O diagnóstico pré-natal é orientado para respeitar e salvaguardar o desenvolvimento, a saúde e a integridade do nascituro.
§ 1.º O diagnostico pré-natal deve ser precedido de consentimento informado da gestante.
§ 2.º É vedado o emprego de métodos para diagnóstico pré-natal que causem à mãe ou ao nascituro riscos desproporcionais ou desnecessários.
Art. 12.º É vedado ao Estado ou a particulares causar dano ao nascituro em razão de ato cometido por qualquer de seus genitores.
Art. 13.º O nascituro concebido em decorrência de estupro terá assegurado os seguintes direitos, ressalvados o disposto no art. 128 do Código Penal Brasileiro: I - direito à assistência pré-natal, com acompanhamento psicológico da mãe; II - direito de ser encaminhado à adoção, caso a mãe assim o deseje.
§ 1.º Identificado o genitor do nascituro ou da criança já nascida, será este responsável por pensão alimentícia nos termos da lei.
§ 2.º Na hipótese de a mãe vítima de estupro não dispor de meios econômicos suficientes para cuidar da vida, da saúde, do desenvolvimento e da educação da criança, o Estado arcará com os custos respectivos até que venha a ser identificado e responsabilizado por pensão o genitor ou venha a ser adotada a criança, se assim for da vontade da mãe.
Art. 14.º Esta lei entra em vigor na data da sua publicação."
O texto do estatuto está aí. De corpo inteiro. Contra fatos não há argumentos. Na barriga da mulher grávida não há um carretel, uma azeitona ou um tumor. Palpita uma vida. Como a sua. Como a minha. Compreendo quem se posiciona do outro lado, mas não respeito quem usa a impostura para impor sua opinião. Não é verdade que o estatuto anulará o artigo 128 do Código Penal, e passará a ser crime punível o aborto de um filho fruto de estupro. Pelo contrário, o texto explicita que fica "ressalvado o disposto no art. 128 do Código Penal". O aborto de um filho fruto de estupro, portanto, continuará a não ser punido.
Não é verdade que o estatuto vai promover uma "bolsa estupro". É muito curioso que certos defensores do Bolsa Família, um programa de indiscutível sucesso, assestem suas baterias contra programas de apoio às mulheres vítimas de estupro.
O brasileiro é a favor da vida. Não se trata apenas de uma opinião, mas de um fato medido em inúmeras pesquisas. Na verdade, a defesa da vida está alinhada com os mais belos valores da democracia.


Fonte: O Estado de São Paulo, 24 de junho de 2013
25/6/2013

domingo, maio 12, 2013

Bem-vindo (a), carinhosamente minha saudação!


Dia das Mães: O amor materno no que tem de mais sublime e tocante

Robert Walter Weir

É de Emile Faguet, se não me engano, o seguinte apólogo: Havia certa vez um jovem dilacerado por uma situação afetiva crítica. Queria ele com toda a alma sua graciosa esposa. E tributava afeto e respeito profundos à sua própria mãe.

Ora, as relações entre nora e sogra eram tensas e, por ciumeiras, a jovem encantadora mas má, concebera um ódio infundado contra a idosa e veneranda matrona.

Em certo momento, a jovem colocou o marido entre a espada e a parede: ou ele iria à casa da mãe, a mataria, e lhe traria o coração da vítima, ou a esposa abandonaria o lar. Depois de mil hesitações, o jovem cedeu.

Matou aquela que lhe dera a vida. Arrancou-lhe do peito o coração, embrulhou-o em um pano, e se dirigiu de volta para casa. No caminho, aconteceu ao moço tropeçar e cair.

Ouviu ele então uma voz que, partida do coração materno, lhe perguntou cheia de desvelo e carinho: “Tu te machucaste, meu filho?”


Com este apólogo, quis o autor destacar o que o amor materno tem de mais sublime e tocante: seu desinteresse completo, sua inteira gratuidade, sua ilimitada capacidade de perdoar.

A mãe ama seu filho quando é bom. Não o ama, porém, só por ser bom. Ama-o ainda quando mau.

Ama-o simplesmente por ser seu filho, carne de sua carne e sangue de seu sangue. Ama-o generosamente, e até sem nenhuma retribuição.

Ama-o no berço, quando ainda não tem capacidade de merecer o amor que lhe é dado.

Ama-o ao longo da existência, ainda que ele suba ao fastígio da felicidade ou da glória, ou role pelos abismos do infortúnio e até do crime. É seu filho e está tudo dito.

Este amor, altamente conforme a razão, tem nos pais, também, algo de instintivo. E, enquanto instintivo, é análogo ao amor que a Providência pôs até nos animais por suas crias.
Fritz Zuber Buhler, "Com o bebê"
Para se medir a sublimidade deste instinto, basta dizer que o mais terno, o mais puro, o mais soberano e excelso, o mais sacral e sacrificado dos amores que tenha existido na Terra, o amor do Filho de Deus pelos homens, foi por Este comparado ao instinto animal.

Pouco antes de padecer e morrer, chorou Jesus sobre Jerusalém, dizendo: “Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, e tu não o quiseste!”


Sem este amor, não há paternidade ou maternidade digna deste nome. Quem nega este amor em sua excelsa gratuidade nega, portanto, a família.

É este amor que leva os pais a amarem seus filhos mais do que os outros — de acordo com a lei de Deus — e a desejar para eles, com afã, uma educação melhor, uma instrução maior, uma vida mais estável, uma ascensão verdadeira na escala de todos os valores, inclusive os de índole social.

Para isto, os pais trabalham, lutam e economizam. Seu instinto, sua razão, os ditames da própria fé os levam a tal. Acumular uma herança para ser transmitida aos filhos é desejo natural dos pais.

Negar a legitimidade desse desejo é afirmar que o pai está para seu filho como para um estranho. É arrasar a família.

E não só a família e a propriedade, como também a tradição. Com efeito, das múltiplas formas de herança, a mais preciosa não é a do dinheiro.

A hereditariedade — o fato é de observação corrente — fixa muitas vezes em uma mesma estirpe, seja ela nobre ou plebeia  certos traços fisionômicos e psicológicos que constituem um elo entre as gerações, a atestar que de algum modo os ancestrais sobrevivem e se continuam em seus descendentes.

Cabe à família, cônscia de suas peculiaridades, distilar ao longo das gerações o estilo de educação e de vida doméstica, bem como de atuação privada e pública, em que a riqueza originária de suas características atinja a sua mais justa e autêntica expressão.

"A oração da noite", Eugene Ernest  Hillemacher
Este intuito, realizado no decurso dos decênios e das centúrias, é a tradição.

Ou uma família elabora sua própria tradição como uma escola de ser, de agir, de progredir e de servir, para o bem da pátria e da cristandade, ou ela corre o risco de gerar, não raras vezes, desajustados, sem definição do seu próprio eu e sem possibilidade de encaixe estável e lógico em nenhum grupo social.

Do que vale receber dos país um rico patrimônio, se deles não se recebe — pelo menos um estado germinativo, quando se trata de famílias novas — uma tradição, isto é, um patrimônio moral e cultural?

Tradição, bem entendido, que não é um passado estagnado, mas é a vida que a semente recebe do fruto que a contém.

Ou seja, uma capacidade de, por sua vez, germinar, de produzir algo de novo que não seja o contrário do antigo, mas o harmônico desenvolvimento e enriquecimento dele.

Assim vista, a tradição se amalgama harmonicamente com a família e a propriedade, na formação da herança e da continuidade familiar.

Este princípio está no bom senso universal. E por isto vemos casos em que mesmo os países mais democráticos o acolhem. É que a gratidão tem algo de hereditário.

Ela nos leva a fazer pelos descendentes de nossos benfeitores, mesmo quando já falecidos, o que eles nos pediriam que fizéssemos. A essa lei estão sujeitos não só os indivíduos como os Estados.

Haveria uma flagrante contradição em que um país guardasse em um museu, por gratidão, uma caneta, os óculos, ou até os chinelos de um grande benfeitor da pátria, mas relegasse à indiferença e ao desamparo aquilo que ele deixou de muitíssimo mais seu que os chinelos, isto é, a descendência.

Frederick Morgan, "Amor materno"
Daí a consideração que o bom senso vota aos descendentes dos grandes homens ainda que sejam pessoas comuns. Por isto é que, por exemplo, nos Estados Unidos, todos os descendentes de Lafayette, o militar francês que lutou pela independência, gozam das honras da cidadania americana, tenham eles nascido em qualquer outro país.

Daí também a pensão que governos brasileiros têm dado muito justamente a descendentes de grandes figuras, caídos em um honrado estado de necessidade: filhos ou netos de Campos Sales, Rui, etc.

Daí também um lance histórico dos mais belos, ocorridos durante a mais recente guerra civil espanhola.

Os comunistas se haviam apoderado do duque de Veraguas, último descendente de Cristóvão Colombo, e iam fuzilá-lo.

Todas as repúblicas da América se uniram para pedir clemência para ele. É que não podiam elas ver, com indiferença, extinguir-se sobre a terra a descendência do heroico descobridor.

Estas as conseqüências lógicas da existência da família e dos reflexos dela na tradição e na propriedade.

Privilégios injustos e odiosos?

Não.

Desde que se salve o princípio de que a hereditariedade não pode acobertar o crime, nem tolher a ascensão de valores novos, trata-se simplesmente de justiça. E da melhor...
        (Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, “Folha de S. Paulo” de 18-12-1968)        Fonte-Valores inegociáveis: respeito à vida, à família e à religião



Pergunte, sugira, comente, divulgue!
Ad astra ultra!
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domingo, abril 21, 2013


Bem-vindo (a), carinhosamente minha saudação!




"Sem sonhos, a vida não tem brilho.
Sem metas, os sonhos não têm alicerces.
Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais.
Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos para executar seus sonhos.
Melhor é errar por tentar do que errar por omitir!"
Augusto Cury

"Esforçai-vos para entrar pela porta estreita" 

Pe. Paulo Ricardo

http://padrepauloricardo.org/episodios/esforcai-vos-para-entrar-pela-porta-estreita?utm_source=Lista+-+padrepauloricardo.org&utm_campaign=9356f95f27-Newsletter_18abr2013&utm_medium=email




Quando o jovem rico disse para Jesus que cumpria desde a infância todos os mandamentos, Jesus fixou os olhos nele e o amou. Em seguida, disse que deveria vender seus bens e segui-lo (Mc 10, 21-22). O restante da parábola é bem conhecido.
O homem de hoje não foge à regra. Ele segue os mandamentos, rompe com o pecado, mas, se entristece quando Deus lhe pede que venda seus bens. Apesar disso, da mesma maneira que fez com o jovem rico, Jesus fixa o olhar nesse homem e o ama. Mas, tal como o jovem rico, Jesus pede também a esse homem moderno que entregue o que lhe é mais precioso e o siga. Como trilhar esse caminho de despojamento de si mesmo, entregando-se completamente a Deus? Como passar pela porta estreita?
Durante todo o início e percurso da Igreja ao longo dos séculos, grandes santos místicos perpassaram a história, mas não havia uma fórmula, uma sistematização, por assim dizer, da mística desses homens e mulheres. Foi somente com Santa Teresa d’Ávila e seu livro "Castelo Interior" no qual compara a vida com Deus como um castelo com sete moradas que se pode, enfim, entender como se dá o "vender tudo e seguir a Deus".
A maioria dos católicos que estão em estado de graça, ou seja, sem pecado grave ou mortal estão ainda na Primeira Morada. Porém, todos são chamados à perfeição. É preciso dar um passo à frente. É preciso ir para a Segunda Morada. É preciso fazer a "segunda decolagem".
Amar a Deus sobre todas as coisas deve ser o objetivo de cada cristão, de cada católico. Mas isso só poderá ocorrer se a voz do Senhor for ouvida, se o apelo que ele faz a cada um que se encontra na Primeira Morada for atendido. Romper somente com o pecado não é o bastante, é preciso deixar o mundo. É preciso preferir a Deus acima de tudo e de todos. Só assim é possível adentrar na Segunda Morada.
A resposta do jovem rico é conhecida. Mas, e a sua?
Na primeira morada do Castelo da alma, descreve a Santa essas almas que, bem enredadas ainda no mundo, têm, contudo bons desejos, rezam algumas orações, mas andam ordinariamente com o espírito cheio de mil ocupações que lhes absorvem os pensamentos. Têm ainda muitas prisões, mas esforçam-se por se desembaraçar delas uma vez por outra. Mercê desses esforços, entram nas primeiras quadras do Castelo, nas mais baixas; com elas, porém, se introduz um sem-número de animais daninhos (as suas próprias paixões), que as impedem de ver a beleza do Castelo e de lá ficar tranquilas. Esta morada, se bem que a menos elevada, é já uma grande riqueza. Terríveis, porém, são os ardis e artifícios do demônio, para impedir essas almas de avançar; o mundo, em que estão ainda mergulhadas solicita-as com seus prazeres e honras; e assim facilmente são vencidas, apesar de desejarem evitar o pecado e fazerem obras dignas de louvor. Por outros termos, estas pessoas pretendem aliar a piedade com a vida mundana; a sua fé não é bastante esclarecida, a sua vontade não é assaz forte e generosa para as levar a renúncia não somente ao pecado, senão também a certas ocasiões perigosas; não compreendem suficientemente a necessidade da oração frequente, nem da rigorosa penitência ou mortificação. E contudo querem não somente salvar a sua alma, mas ainda progredir no amor de Deus, fazendo alguns sacrifícios.
TANQUEREY, Adolph. "A vida espiritual explicada e comentada". Ed. Permanência, p. 365.

sábado, abril 20, 2013


O relativismo relativo ou a justa relatividade da verdade

 Pe. Anderson Alves

Então a afirmação tudo é relativo implica que duas afirmações contraditórias possam ser verdadeiras?

    Em outra ocasião dizíamos que o relativismo e o ateísmo absolutos são incompatíveis[i]. Pois quem afirma ser verdade que Deus não exista, não poderia negar a existência da verdade. De modo que o ateísmo absoluto nos mostra que relativismo não pode ser absoluto, só pode ser relativo.
     E isso é comprovado se partimos da afirmação dos que dizem que o relativismo não nega a existência da verdade, mas somente diz que ela é sempre relativa. 
     De fato, a afirmação de que “tudo é relativo” é muito comum nos nossos dias e pode significar algo equivocado e também algo certo. 
    Equivocado quando quer significar que duas afirmações contraditórias podem, ao mesmo tempo, ser verdadeiras. Pois quem afirma isso deveria aceitar que duas afirmações contraditórias não podem ser contemporaneamente verdadeiras (uma vez que essa é a contraditória da afirmação anterior). Mas quem diz que duas afirmações contraditórias podem e não podem ao mesmo tempo ser verdadeiras, não sabe realmente o que fala. 
   A inteligência e a linguagem humanas, se querem continuar sendo reconhecidas como tais, não aceitam contradições.
  “Tudo é relativo” pode significar também algo bem preciso: que a verdade indica sempre uma relação. De fato, a verdade se dá quando se afirma aquilo que é, ou se nega aquilo que não é. 
    Em outras palavras, a verdade se dá quando a inteligência apreende o que as coisas são e as expressa em juízos. De modo que “tudo é relativo” significa que toda verdade é relativa a uma inteligência: a de quem a conhece.
    E a inteligência pode ser tanto a divina quanto a humana. A divina fundamenta toda verdade natural existente, porque Deus pensa todas as coisas e depois as cria (inclusive o processo evolutivo). E a correspondência daquilo que as coisas são com o pensado por Deus sobre as coisas é a verdade natural de todas elas, intrínsecas às mesmas. O intelecto humano, por sua vez, não conhece todas as verdades, mas está em potência para conhecê-las. 
  Sendo assim, a relação do intelecto divino com as coisas é essencial para as coisas, pois sem essa relação as coisas não podem existir; a relação do intelecto humano com as coisas naturais é acidental, pois ainda que o homem não as conhecesse, essas existem e são dotadas de uma racionalidade e de leis próprias e cognocíveis. 
    Santo Tomás de Aquino chega a dizer que se não houvesse nenhuma inteligência, nem a divina nem a humana (o que é impossível), não haveria nenhuma verdade[ii].
    Então a afirmação “tudo é relativo” implica que duas afirmações contraditórias possam ser verdadeiras? Evidentemente não, pois afirmar que duas contraditórias são verdadeiras implica aceitar que duas afirmações contraditórias não são verdadeiras, o que é um absurdo. Dizer que cada verdade é relativa a um intelecto quer dizer que a verdade só existe porque é conhecida por Deus e pode ser conhecida pela inteligência humana, mas não implica que a inteligência humana conhece infalivelmente a verdade. 
     A inteligência humana não é nem a divina nem a angélica e pode se equivocar. Mas também só essa inteligência pode reconhecer o próprio erro.
     Sendo assim, quando uma afirmação é verdadeira a sua contraditória necessariamente será falsa. Isso quer dizer que se uma pessoa diz “isso que está diante de mim é um computador”, não pode dizer no mesmo tempo “isso que está diante de mim não é um computador”. Quem está certo da verdade da primeira afirmação, não pode aceitar a verdade da segunda. Isso é o princípio básico de coerência do pensamento e da linguagem humana. 
     Quem nega esse primeiro princípio se torna incapaz de fazer qualquer afirmação, de raciocinar, de dialogar, de viver em sociedade. Se torna, para continuar com o exemplo de Aristóteles, semelhante a um vegetal, com quem não é educado discutir.
    E quando alguém diz: “isso é a tua verdade, mas não é a minha verdade”: há algum sentido? Certamente nesse caso deve-se analisar o conteúdo das duas afirmações e ver se ambas são realmente contraditórias e depois investigar se ambas são falsas, ou se alguma é verdadeira. No caso de que uma seja verdadeira, a sua contraditória será necessariamente falsa. E isso não implica discriminação com ninguém, pois é próprio de pessoas de inteligência considerar mais o que se diz do que quem o diz, num diálogo.         
     Pode ocorrer que as duas afirmações não sejam contraditórias, mas verdades complementares, ou duas falsidades. É necessário saber, então, qual é o critério último para que uma afirmação seja verdadeira ou falsa. 
    Já iniciamos aqui uma resposta, mas a aprofundaremos em outra ocasião.
O que importa agora é deixar claro que toda verdade se refere a uma inteligência. Nesse sentido, toda verdade é relativa, inclusive a verdade divina, relativa à inteligência (Logos) de Deus. E isso é o justo relativismo da verdade. Por outro lado, afirmar um relativismo absoluto, ou seja, dizer que toda afirmação é necessariamente verdadeira (ou necessariamente falsa), inclusive aquelas contraditórias, significa afirmar algo tão ilógico e antinatural que seria melhor não dizer nada: “sobre o que não se pode falar, se deve silenciar”[iii].

Fonte:
Pe. Anderson Alves, sacerdote da diocese de Petrópolis – Brasil. Doutorando em Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce em Roma.
 http://www.zenit.org/pt/articles/o-relativismo-relativo-ou-a-justa-relatividade-da-verdade

[i] Cfr. http://www.zenit.org/pt/articles/e-possivel-um-relativismo-absoluto Cfr. também: http://www.zenit.org/pt/articles/o-ateismo-e-uma-escolha-racional
[ii] S. Tomás de Aquino, De Veritate q. 1, a. 2.
[iii] L. WITTGENSTEIN, Tractatus logico-philosophicus, prop. 7.

sexta-feira, abril 19, 2013

BELEZA

O culto à feiura no mundo revolucionário
O belo vem sendo escorraçado no mundo moderno para ceder lugar ao horrendo. Há necessidade de uma reação para se obter a restauração da beleza, da verdade e da bondade de Deus.
 
 
O Pe. Anthony Brankin foi ordenado sacerdote na Arquidiocese de Chicago em 1975, tendo recebido licenciatura em Sagrada Teologia. Passou depois seis anos como assistente na igreja de Nossa Senhora da Caridade, em Cicero, Illinois.

 
Pe. Anthony Brankin:

"O culto da feiura é tão penetrante, preenche todos os interstícios da vida, que corremos o risco de não analisá-lo e deixar, assim, de rejeitá-lo"
Em 1998, o cardeal Francis George nomeou-o capelão do capítulo de Chicago do Legado Internacional, organização formada por executivos católicos e suas esposas. Atualmente é pároco da igreja de Santo Odilon, em Berwyn, Illinois.
Regressou a Chicago em 1983. Em 1989 foi constituído pároco da igreja de São Tomás More. Nesta paróquia é celebrada a Missa tridentina em latim todos os domingos ao meio-dia.Em 1981 o Cardeal Cody o enviou a Roma, para que prosseguisse seus estudos em arte e teologia. Frequentou simultaneamente a Academia de Artes Finas em Roma (estudando escultura e pintura) e a Universidade de São Tomás de Aquino, onde continuou seus estudos de teologia.
Além de pronunciar conferências em diversos lugares, o Pe. Brankin escreve para a “Homiletic and Pastoral Review”, “The New Oxford Review” e “The Wanderer”, e faz recensão de livros para a editora Catholic New World, de Chicago.
Desenhista, pintor e escultor desde a juventude, o Pe. Brankin recebe encomendas oriundas de mosteiros, conventos, igrejas e organizações civis dos EUA e de Roma para a confecção de imagens em tamanho natural feitas por ele geralmente em bronze. Recentemente esculpiu duas grandes esculturas: uma representando o “Cristo do Apocalipse” montado num cavalo, e outra de São José com o Menino Jesus, encomendada pelo Cardeal Raymond Burke.
Entusiasta da Missa em latim e excelente pregador com visão crítica da cultura e da história, ele expõe as verdades da fé de modo acessível a todos.
*       *       *
 
Catolicismo — O que o Sr. visa em suas palestras sobre a questão da feiura nos ambientes hodiernos?
Pe. Brankin — Não pretendo mencionar cada caso possível de feiura na nossa sociedade atual. Isso seria fatigante, quando não simplesmente desalentador. Vivemos de fato imersos numa cultura incrivelmente feia; não podemos escapar disso. O propósito é manter as pessoas atentas quanto ao real perigo de não perceberem a feiura, nem de se darem conta da verdadeira destruição que ela opera em suas almas.
Catolicismo — Poderia mencionar casos de feiura na sociedade atual? Por que se fazem construções, músicas e modas feias se o que atrai é o belo?
Pe. Brankin — Um exemplo relativo aos Estados Unidos: quando digo que as pessoas vivem imersas na feiura, quero dizer que elas estão cercadas por quilômetros de irredutíveis feiuras: McDonalds e Burger Kings comprimidos entre postos de gasolina e cortiços. Embora não confundam isso com beleza, à força de serem tão comuns elas poderão não mais achá-los particularmente feios.
As pessoas não mais reconhecem as coisas especificamente como feias. Nunca se poderá fazer uma reflexão sobre a feiura de todos os shoppings com as suas fachadas falsas e interiores ainda mais falsos, ou sobre os condomínios, tão vazios e estéreis no interior quanto no exterior. Tudo agora se apresenta exatamente assim. E, claro, isso é só para começo de conversa, pois existe também em nosso mundo uma feiura espiritual não menos penetrante e de algum modo relacionada com a feiura visual que nos cerca.
Escultura do prestigiado artista moderno Miró, no Défense, em Paris:

“Uma sociedade que não acredita em Deus, no sobrenatural, nem mesmo na verdade — para não mencionar também a beleza — só fará coisas feias”

Depois, naturalmente, quando por fim as pessoas chegarem às suas casas, ligarão a televisão para ouvir as notícias sobre o progresso científico de nossa cultura de colheita e venda das partes de corpos de bebês. Verão notícias de candidatos políticos tentando suplantar uns aos outros na faina de matar bebês por meio do aborto.Ao ligar o rádio do carro, tudo o que se ouvirá serão notícias sobre algum novo tiroteio. No entanto, as pessoas estarão em condições de formar uma imagem mental dos bandidos, pois já viram suas feições e trajes no próprio quarteirão em que residem, e, talvez mesmo, entre os familiares: cabelo colorido em mechas, mutilações, tatuagens, brincos no nariz e nas sobrancelhas, roupas frouxas, bonés de beisebol ao revés, aspectos grosseiros e grunhidos mal-humorados.
 Liga-se um canal, no qual por horas a fio ser-lhes-á oferecido um espetáculo de atores e atrizes vomitando frases vis, em produções de um mau gosto cada vez maior. Seria possível descrever melhor a programação televisiva do que dizer que ela apresenta gente feia e ruim, fazendo coisas feias e ruins umas às outras? De fato, a feiura é tão universal e transformou-se de tal maneira em parte da nossa vida, que ela nem se registra mais em nossa mente.
Bem, mas poder-se-á pensar que, ao menos no domingo, seríamos poupados de toda essa feiura visual e espiritual indo à igreja. Mas a feiura também lá está, pois, possivelmente, sua igreja já foi despojada pelos modernos bárbaros católicos, que não possuem sequer senso artístico.
 
Catolicismo — Os edifícios horrorosos construídos também para igrejas?
Pe. Brankin — Os modernistas removem o tabernáculo para um closet e o crucifixo para o subsolo do salão paroquial. Eles terão destruído o santuário, as capelas, e gastado tudo o que puderem para arruinar qualquer senso de beleza estética demonstrado pelos primeiros paroquianos e pelo arquiteto original. Porém, mais uma vez, os fiéis se acostumaram tanto com isso, que já não mais se registra em suas mentes aquilo que em nome da reforma eles fizeram com sua igreja. Pelo menos até se confrontarem com o que eles fizeram também com a Missa — sempre insolente, sempre infantil, sempre mutável, sempre aborrecida. Até os fiéis não estarem mais seguros, de quem deveria ser o maior embaraço: o dos fiéis por estarem ainda lá, ou o dos liturgicistas que inventaram aquilo tudo.
De fato, o culto da feiura é tão penetrante, nos cerca tão completamente e preenche todos os interstícios de nossa vida, que corremos a cada momento o risco de não analisá-lo e deixar, assim, de rejeitá-lo.
 
Catolicismo — Como o Sr. conceituaria a noção de beleza?
Pe. Brankin — Pergunte-se a qualquer criança que esteja desenhando, o que ela está tentando fazer. Ela dirá que está tentando recriar algo que viu na natureza, seja uma maçã, o sol, uma árvore ou uma casa. E, invariavelmente, para aquela criança a medida do sucesso de seu desenho é o quanto ele proximamente se pareça com a natureza.
Precisão em conformidade com a natureza sempre foi o padrão de referência para artistas e sociedades, para todas as altas civilizações, dos egípcios e gregos aos romanos e europeus. As sucessivas gerações de artistas de cada cultura procuraram melhorar, ou ao menos preservar, as técnicas, lições e descobertas das gerações anteriores, sempre buscando maior beleza de linhas, mais solidez nas formas e perspectivas mais verdadeiras.
Era, de modo geral, aceito haver algo de infinitamente mais para uma face do que a simples face; algo relativo às proporções entre nariz, olhos, ossos molares, maxilar, lábios e boca. Isto, evidentemente, seria a beleza.
Assim, para entendermos qualquer coisa sobre o culto à feiura, precisamos primeiro entender o que é a beleza. Sua definição é bastante básica. De acordo com o grande santo-filósofo da Idade Média, Tomás de Aquino, a beleza é aquilo que quando visto agrada. Nem mais, nem menos. Se cores, formas, figuras e composições agradassem ao mesmo tempo a mendigos e a reis, seriam então consideradas belas.
Catolicismo — Por que agradam? O que leva a nos deleitar com aquilo que nossos olhos veem?
Pe. Brankin — Santo Tomás disse que, se alguma coisa nos dá prazer, é porque algo de bom de algum modo existe na coisa que nos dá prazer; e o bem sempre nos atrai e agrada.
      
Cadetral católica de Tóquio

“O culto à feiura é tão absolutamente penetrante e diligente em celebrizar o infrutuoso, o estéril, o deformado e o feio, que põe à margem a Fé”
   Agora, o bem que uma pessoa vê e sente em alguma coisa é a sua forma. Ou seja, sua totalidade, suas proporções. Se tal coisa for completa, direita e equilibrada, ela é boa e a razão pela qual somos atraídos por aquela forma é porque sentimos haver no objeto o mesmo tipo de forma existente dentro de nós. Vemos e sentimos, na formado belo objeto, um bem. E o bem nele ecoa o bem em nós — ou, pelo menos, o bem que deveria haver em nós. Sentimo-nos fascinados e atraídos por aquela semelhança. Ela nos agrada e queremos permanecer na sua presença. Observemos como as crianças são totalmente tomadas umas pelas outras, como elas reagem em relação àquelas outras pequenas criaturas que se parecem tanto com elas. Como elas fitam as outras crianças, reconhecem as suas similitudes e até se aproximam para lhes tocar a face.
         A forma de um belo objeto é considerada bela pelo fato de ser completa e proporcionada, do mesmo modo como nos sentiríamos completos e proporcionados nos deleitando com a beleza do nosso próprio ser. Há uma semelhança entre aquilo que está em nós e aquilo que está no objeto belo. E sentimo-nos agradados.
         Mas isso não é tudo. Há outro elemento presente, sem o qual não podemos obter todo esse reconhecimento deleitável. Do mesmo modo como os olhos do corpo necessitam da luz para verem algo, também os olhos da alma precisam de semelhante luz — que Santo Tomás denomina claritas (claridade) —, uma centelha de luz, por assim dizer, que se reflete no belo objeto e dele provém.
Trata-se da mesma centelha de ser que provém do ser de Deus. O próprio ser de Deus está presente no ser do objeto, e o belo ser de Deus revela-se assim na forma, proporções e claridade do objeto. É precisamente pelo fato de uma coisa ser um reflexo da beleza de Deus que somos naturalmente atraídos para ela, como o seríamos para Deus em nosso desejo de união com Ele.
         A beleza de Deus está refletida misteriosamente, de algum modo, na beleza do ser. Primeiro na natureza — nas árvores, nos crepúsculos, faces e nas formas das figuras; depois na arte — desenhos, pinturas, esculturas, e até mesmo na arquitetura; e, de modo ainda mais misterioso, na música.
         Quanto mais próximas da natureza e a ela conformes, tanto mais essas formas artísticas se conformarão estreitamente com o sobrenatural e mais precisamente refletirão a verdade, beleza e bondade de Deus.
 
Catolicismo — Hoje em dia é comum ouvir objeções ao que o Sr. afirma. Diz-se que a beleza é subjetiva; que depende dos olhos do observador; que é uma questão de gosto; que depende da educação e de cada um. Se ele gosta da coisa, isso é bonito e ponto.
Pe. Brankin — Juntamente com 30 mil anos de instinto humano e dois mil anos de tradição católica, posso hoje declarar que a beleza não se encontra nos olhos do observador. Ela reside na coisa bela em si mesma. Ou ela tem proporção, totalidade, integridade e clareza em si mesma e vem de Deus, ou não possui essas qualidades e desagradará à alma com discernimento: será feia.
Escultura, na Place de I*$*Albertine, Bruxelas

“A mensagem subliminar contida em cada peça confusa e deformada da arquitetura, da arte, da música ou do drama, é a de que Deus não existe”
Assim, do mesmo modo como o modernismo teológico nega a realidade objetiva do sobrenatural, alegando que todo dogma e toda revelação é uma mera experiência pessoal e, portanto, a verdade é aquilo que você pensa ser verdade, o modernismo artístico tenta nos convencer de que qualquer coisa que alguém ache bonita será realmente bonita para ele.
         De fato, a ninguém hoje é permitido dizer que algo seja feio, porque, para chamar alguma coisa de feio, ficaria insinuada a possibilidade de que exista um padrão real de referência segundo o qual algumas coisas podem ser belas e outras não. Isso insinua a existência de uma verdade objetiva, a qual certamente não é permitida na sociedade hodierna por remeter a Deus.
Somos intimidados a manter um silêncio moral e cultural diante da proclamação moderna de que é de certo modo bonita uma figura acocorada, desventurada e desproporcionada — e mesmo talvez mais artística que a figura inicialmente criada por Deus.
 
Catolicismo Como se poderia dizer que algo que se nos afigura tão feio seja considerado bonito por outros?
Pe. Brankin — Os outros o dizem, mas agora sabemos que sua atitude se deve a uma vaidade intelectual moderna por onde a apreciação ‘superior’ que têm da arte os coloca acima dos que não fazem parte do jogo. Pela mesma razão, a ninguém é hoje permitido dizer que algo é errado, mau ou imoral. Se não há nada que seja intrinsecamente verdadeiro, então não há nada que intrinsecamente seja bom ou mau, belo ou feio.
Assim, os fiéis têm razão quando entram numa monstruosa igreja moderna e dizem instintivamente: “Meu Deus, que feia!”. Ela provavelmente é feia mesmo. E a autoridade que lhes dá razão é, nada mais nada menos, Santo Tomás de Aquino.
Catolicismo Não sendo o conceito de beleza subjetivo, posso manifestar meu desacordo em relação a uma pessoa que considera belo aquilo que eu vejo como feio?
Pe. Brankin — Os fiéis não incorrem em qualquer falta moral ou estética se os estranhos ângulos e o concreto aparente de uma igreja os fizerem sentir mal à vontade e desconfortáveis. Não há qualquer pecado em ver uma horrível deformação de Cristo na cruz ou uma monstruosa representação de Maria e dizer que aquilo é horrível e monstruoso. Como não há virtude em esforçar-se por achar que de algum modo tudo é bonito e que se deve estar errado. Rejeite a atitude de sentir-se forçado a choramingar num canto, dizendo: “Penso que não conheço muito sobre arte”. Isso pode simplesmente significar que seus bons instintos humanos e católicos ainda estão intactos e que sobreviveram de algum modo nessa sociedade enormemente feia.
 
Catolicismo Algum leitor poderia objetar: “Meu Deus, o mundo está caindo aos pedaços, as crianças sendo succionadas do ventre materno, e esse sacerdote falando sobre desenhos e belas pinturas”. Como o Sr. se explica dando lições sobre a filosofia da arte?
Pe. Brankin — Isso vai mais fundo do que a filosofia estética. Tem a ver com o modo de pensarmos e de conduzirmos a nossa própria vida — a vida, a natureza e o ser enquanto todo. Toda atividade humana se exprime através da beleza para nos proporcionar um acesso a Deus, que é a própria Beleza. O homem medieval possuía o senso da beleza. É preciso ter virtude para fazer coisas virtuosas. Realmente, cumpre ter virtude até para reconhecer a virtude ou para reconhecer o que é oposto a ela. E se você possui essa virtude, essa graça — essa inclinação natural para o sobrenatural, esse saudável senso de beleza —, verá, conhecerá, sentirá e fará coisas que o geral das pessoas é simplesmente incapaz de fazer.
O mesmo vale para o senso de beleza. A menos que a beleza resida primeiramente no interior, ela nunca será exemplificada exteriormente em parte alguma da sociedade. Ela não será nem sequer reconhecida.
O senso remanescente de beleza em nossas mentes e corações, pelo qual ainda podemos reconhecer a feiura existente tanto em edifícios como na filosofia ou na vida, deve ser alimentado e protegido como a nossa última arma na batalha com o “Não-Deus”.
Mas como pôde acontecer que o resto do mundo ter-se tornado tão irremediavelmente feio em todos os níveis? Parece que nos chafurdamos nisso. Bem, talvez agora esteja claro que não mais possuindo a virtude teológica ou prática, não mais possuindo a graça ou a fé, e nem mesmo as mínimas noções de Deus, nossa sociedade abraçou o vazio. Tendo nós abandonado o verdadeiro Deus, tornando-nos cegos à sua claritas, à sua centelha, à sua luz; habitamos na feiura, na escuridão e na confusão.
Não vemos ou fazemos externamente coisas virtuosas porque não mais existe virtude ou beleza no interior. Uma sociedade que não acredita em Deus, no sobrenatural, nem mesmo na verdade — para não mencionar também a beleza — só fará coisas feias.
Tragicamente, nosso mundo não reconhece sequer o que é o feio. Já dissemos que a beleza é aquilo que quando visto agrada e, portanto, o lógico seria que o feio fosse aquilo que quando visto desagrada. Mas olhem para a nossa sociedade, na qual o que agrada é o macabro, o esquisito, o torto e o deformado; na qual, por muitos anos, a peça mais popular de cinema — número um durante semanas — foi um filme sobre um canibal. São o mal e o feio que agora deleitam. Bem-vindos ao bravo novo mundo: o que em outra época teria sido chamado de mau agora é qualificado como bom, e o que era considerado feio é agora considerado bonito.
 
Catolicismo O culto à feiura visa ao próprio Deus e à nossa percepção d’Ele? Ou à afirmação de que Ele não existe?
Pe. Brankin — O que digo não se restringe às belas imagens. Trato do antigo assalto à beleza de Deus e da original afronta à sua existência e à natureza e vida criadas por Ele. O culto à feiura em nossa Terra não é menor que a raiva de satanás contra Deus. Não é menor que a ponta-de-lança da cultura da morte. Mais ainda, o culto à feiura é tão absolutamente penetrante e diligente em celebrizar o infrutuoso, o estéril, o deformado e o feio, que põe à margem todas as outras fés — sobretudo a verdadeira Fé.
A mensagem subliminar contida em cada peça confusa e deformada da arquitetura, da arte, da música ou do drama, é a de que Deus não existe. A mensagem subliminar presente em cada mutilação deliberada das formas naturais, em cada tributo feito à perversão física e pessoal, é a de que Deus não existe. A mensagem subliminar manifesta em cada celebração do preternatural e do cadavérico é a de que Deus não existe. Esta mensagem subliminar é um iluminado“evangelho da morte”, tão perfeito como qualquer cultura jamais poderia ter proclamado; e sua onipresença em todos os aspectos da vida moderna nos incita constantemente a aceitar esse “evangelho”.
Igreja da Santa Cruz, em Hamburgo (Alemanha)

“Nós, católicos, pensando que estávamos abrindo as janelas ao diálogo com a modernidade, nunca demo-nos conta de que estávamos sendo manipulados”
Infelizmente até mesmo grande parte do clero — cuja missão deveria certamente incluir o incentivo ao culto à beleza como parte da proclamação do Evangelho da Vida, e que imaginamos fosse capaz de nos defender das feias seduções do “Não-Deus” — é com frequência incapaz de perceber o que se passa e capitulou de várias maneiras ante o culto da feiura. Isto se comprova a cada momento em que entramos numa igreja e vemos um Cristo na cruz com pés disformes e olhos esbugalhados, ou uma tosca Nossa Senhora de cimento aparente. O pobre padre pensou estar simplesmente comprando para o seu rebanho uma peça de arte contemporânea. Com toda ingenuidade e ignorância, achou que estava adquirindo uma recente interpretação de temas religiosos tradicionais. E nunca se deu conta de que aquilo para o que olhava, e com o que enchia os olhos de seu rebanho, era na realidade uma forma humana explodida, explorada e degradada, reduzida às suas partes individuais e impotentes, novamente reunidas num desconjuntado desequilíbrio. Tudo com o propósito de revelar e ensinar uma profunda aversão às formas vivas, o ódio moderno ao Criador.
O pobre padre jamais pensou estar fazendo isso. Não creio que tenha questionado a fonte espiritual de formas tão estranhas ou mesmo imaginado as fontes terríveis das quais provinham. Talvez nunca tenha suspeitado da existência de um culto à feiura. Talvez tenha julgado que tudo aquilo fosse apenas uma questão de gosto, e que seu gosto — como o de seu rebanho — era simplesmente retrógrado e destinado a sofrer um pequeno abalo aqui e acolá. Bem, abalados fomos todos nós.
Olhe para as nossas igrejas e catedrais mais recentes. Muitas delas são atordoantes e terríveis. Não pela homenagem à tradição e ao senso católico de beleza. Elas são atordoantes e terríveis na sua total desumanidade, na sua falta de proporções completa e horrenda, na sua minuciosa e total esterilidade. Não há um ângulo que agrade ou um arco que conforte. Nem sequer um pedaço de moldura que nos contenha em sua sombra. Tampouco uma imagenzinha diante da qual possamos acender uma pequena vela. Como o focinho escancarado e as fornalhas sacrificadoras de crianças do Moloch pagão, algumas de nossas novas igrejas consumirão os fiéis em holocaustos de horror visual. Atrevo-me a dizer que um ou dois desses “espaços eclesiásticos de culto” constituem as peças de arquitetura mais terrificantes realizadas por e para católicos modernos.
Comparação entra a cadetral de Los Angeles(Dir.) e a Cadetral de São Denis, na França. Sem comentários...

“Um dia dar-nos-emos conta de que distanciamos cada vez mais de Deus, porque sua fascinante beleza não mais se encontra sequer em nossas igrejas”

Pe. Brankin — Nós, católicos, pensando que estávamos abrindo as janelas ao diálogo com a modernidade, nunca demo-nos conta de que estávamos sendo manipulados. Ao falarmos tanto tempo na linguagem e nas formas do mundo moderno, pensávamos poder dar uma interpretação cristã à filosofia do Iluminismo ateu. Julgávamos que agora eles nos amariam e viriam para o nosso lado. Mas nos inteiramos de que dizíamos e significávamos coisas que não queríamos dizer nem significar. E nem sequer sabemos mais como desdizer aquelas coisas.
CatolicismoSe uma pessoa não analisa aquilo que é feio ou belo, por exemplo na arquitetura, não poderia ficar com a alma embotada para ver a Deus?
Aí estão, à vista de todo o mundo, nossa impotência evangélica e nossa paralisia espiritual, adquiridas recentemente e tão claramente exibidas na confusão de nossas igrejas renovadas, na loucura de nossas liturgias experimentais e no vazio de nossas catedrais. Por que alguém seria atraído para a beleza de Deus se é com tudo isso que Ele se parece? E um dia dar-nos-emos conta de que distanciamos cada vez mais de Deus, porque sua fascinante beleza não mais se encontra nem sequer em nossas próprias igrejas.
 
Catolicismo Em vista desta bela exposição que o Sr. fez nesta entrevista, como agir? Devemos gastar nossas energias esforçando-nos por convencer, mudar e converter aqueles que aceitam o que é feio?
Pe. Brankin — Às vezes realmente pensamos nisso. Pensamos que, se todos vissem uma bela imagem, uma bela igreja, ou ouvissem um argumento perfeito ou um belo canto na Missa, todos se converteriam. Mas quantos convertidos vieram para a Igreja após ouvirem um canto gregoriano? Por certo, discos com música gregoriana foram vendidos aos milhões, mas estou seguro de que a maioria considerou como mais um pouco de música ambiente para acompanhá-los na rotina cotidiana. Os modernos não têm qualquer ideia sobre o que os monges estavam cantando, e o problema não era o latim.
Quantos de nós pensamos há 25 anos que a causa contrária ao aborto certamente triunfaria se ao menos pudéssemos mostrar às pessoas fotos de fetos em desenvolvimento? Ninguém ligou, e agora estamos batalhando contra o infanticídio. Sua pergunta seria: então tudo está acabado? Devemos dar de ombros em atitude de total desânimo? Resignarmo-nos à feiura física e ao vácuo espiritual de nossa época? Rendermo-nos ao “Não-Deus” de nosso tempo? Colocarmo-nos sobre o monte de esterco da modernidade aguardando como Jó uma morte misericordiosa?
As belezas e os encantos da arquitetura de Veneza atrairão sempre os homens retos

“Passemos a encher nossas mentes, nossos corações, nossas famílias, nossos filhos, todo o nosso mundo com tanta beleza quanto seja possível”
Não, penso que não. A primeira de nossas tarefas é permanecer convertidos e dedicados ao Deus de nossos pais, ao Deus de toda beleza e de todo o bem. E então, naturalmente, partilharemos sem nos darmos conta da beleza que interiormente experimentamos. A verdadeira cultura católica nos foi legada para recriarmos, ignorando olimpicamente tanto nossa sociedade moderna quanto os clérigos que desejam de modo ardente a modernidade. Nós os ignoramos. Passemos a encher nossas mentes, nossos corações, nossas famílias, nossos filhos, todo o nosso mundo com tanta beleza quanto seja possível. De modo que, por força da quantidade e da qualidade de nossos esforços, não haja mais lugar para aquilo que é desumano, feio e oposto a Deus.
Se isso soa como um toque de clarim conclamando a voltar às catacumbas, abandonando a cultura moderna, então assim seja. Sim, isso também é heresia em nossa Igreja contemporânea, onde somos constantemente encorajados a nos engajar e abraçar o mundo moderno. Mas, fazendo-o — como vimos no decurso das últimas trágicas décadas —, não temos nesse venenoso encontro nada a ganhar, mas tudo a perder.
Mas onde estão as catacumbas? Onde estão os refúgios dos horrores humanos e espirituais do nosso bravo mundo novo? — Estão em nossas próprias casas, salas e quartos, nos nossos cursos domésticos e nas academias de ensino privadas. Ali é onde a verdadeira cultura do Novo Milênio tomará forma, pois, indiferentes à pompa e aos prazeres, às arrogâncias pretensiosas e às superficialidades carnais deste mundo feio que nos cerca, as mães e os pais poderão educar, moldar e guiar seus filhos em uma fé sem adulteração, inculcando em suas almas todo tipo e exemplo de beleza.
Ao isolar e proteger seus filhos da sordidez que os circunda, os pais estarão somente fortalecendo-os para uma eventual confrontação com ela. Encham as paredes de suas casas com bela arte, os ouvidos de sua família com bela música, as almas de seus filhos com belas histórias e não haverá lugar para o insípido, o perverso, o feio, o sem fé. Fazendo das famílias uma pequena“igreja”, não terão de estar continuamente se engajando numa ação de retaguarda para frustrar as toxinas da mídia, das escolas ou dos estranhos novos amigos de seus filhos na vizinhança. Não será preciso forçá-los a desaprender em sua casa as lições que eles acabam de aprender lá fora.
         As famílias virão a conhecer e apreciar que existe apenas uma coisa da qual ocupar-se, em torno da qual mover-se, uma só coisa a cultivar: suas almas, o belo dom de Deus. Esta percepção ajudará então a fazer belas coisas e apreciar todas as coisas bonitas que provêm de almas repletas de graça.
E se fizermos isso, então, pouco a pouco, à medida que a modernidade continuar a morrer — como seguramente deverá, pois não é a morte o seu próprio tema? —, ela irá sendo substituída pela vida; de fato, uma nova cultura da vida, cuja sadia característica será a celebração da beleza de Deus na beleza da vida que nos cerca. Não resta dúvida de que existe um culto à feiura em nossa sociedade; mas este culto não é o nosso e com ele nada temos que ver.

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